
Depois de alguma reflexão e de analisar diferentes passagens da Biblia, conclui-se que a escolha provavelmente foi feita pelo caráter manso, pacífico e obediente desse animalzinho. Isaias 53.7 infere isso: “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca”. Ou seja: o cordeiro é um animal calmo, que não revida, não ofende, não ataca, não agride. Em resumo: é um animal que não exprime raiva.
Ah, que percepção magnifica! A própria essência do Salvador é antirraivosa. É plácida. É uma essência de amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, domínio próprio e… mansidão – que é o fruto do Espirito. E todos nós sabemos que devemos ser imitadores do Mestre. Que devemos ter o caráter de Cristo. Se por um lado essa percepção é fantástica, pois nos leva a perceber o que Deus quer que sejamos, por outro lado é assustadora, pois nos faz ver o quanto a noiva do Cordeiro está distante do que Deus quer que sejamos. Isso porque temos vivido uma crise crônica de… raiva.
Sim, a Igreja de Jesus Cristo está com raiva. Muita raiva. Eu e você nos tornamos pessoas raivosas e valorizamos a raiva como uma suposta virtude cristã. “Imagina, Mauricio”, você poderia dizer, “eu não sinto raiva, a Igreja não sente raiva, que exagero”. Mas fato é que o cheiro de raiva paira no ar do templo.
Pense em quem são os líderes cristãos mais visíveis no Brasil atualmente. De um lado temos

Por falar em youtube e twitter, basta gastar algum tempo nas redes sociais que você verá pastores que falam o tempo todo de amor, mas usando um discurso extremamente raivoso para defender o seu ponto de vista sobre Deus e a Igreja. Nunca vi tanta raiva sendo destilada em nome do amor. “Amemos uns aos outros, seus imbecis”, é só o que falta algum desses líderes postar no twitter. “Nós somos os da graça e os outros os da religião”, alfinetam outros. E assim segue a Igreja nas redes sociais, com litros e mais litros de raiva inundando nossos computadores.
E lógico que com líderes assim a membresia acaba se contaminando. Achando que é isso aí. Que esse é o caminho. Que botar pra quebrar e sair arrebentando é o papel do cristão. É só passar mais um tempinho surfando pelas redes sociais e alguns blogs de maior expressão no meio evangélico para ver que cada um defende aquilo em que crê não pela exposição de argumentos calmos, racionais e lógicos em favor daquilo em que acreditam, mas sim com ataques raivosos a pessoas, teologias e ideias de que discordam. A Igreja não está usando das ferramentas bíblicas para defender suas posturas e crenças, mas sim armas do mundo: a ofensa, a agressão, a ironia, o sarcasmo, os ataques. Raiva!
Com isso, nós desvirtuamos completamente a missão. Nos desviamos do que Cristo espera de nós. Não fazemos uso do exemplo de Jesus, pelo contrário: parecemos mais integrantes da juventude hitlerista ou da Ku Klux Klan em nosso comportamento público do que da Igreja do Cordeiro que se entregou em silêncio, que deu a outra face, andou a segunda milha. E com isso nos tornamos mundanos e pagãos.

Por isso decidi me afastar um pouco do twitter. Senti a necessidade de voltar à retaguarda, me recompor, lembrar do ponto onde caí e retomar a estrada da paz. Sair do burburinho, da multidão de vozes, para respirar fundo, ouvir o vento, o pulsar do coração e o cicio calmo do Senhor. O murmurejo do Cordeiro. Tenho falado menos e me contentado a levantar minha voz aqui no mosteiro do APENAS. E tem sido bom, pelo menos por enquanto.
A Igreja tem que repensar seu tom de voz. Tem de escolher melhor as palavras. Precisamos usar mais a gentileza. Desistir da ironia e do sarcasmo. Aí sim eu e você estaremos começando a ser menos parecidos com apresentadores de programas vulgares de auditório e mais parecidos com Cristo. Não me interessam telepastores agressivos. Não me interessam líderes que falam de graça mas chamam outros cristãos de “bundões”. Não me interessam líderes que acusam a igreja institucional de não ter amor e para isso exalam raiva para todos os lados do twitter. Não me interessa o bate-boca amargo e arrogante de cristãos nas redes sociais. Não me interessam leões. Me interessa o Cordeiro. Quero aprender com Ele e, cada dia mais, me tornar um bem-aventurado pacificador. Suave com o próximo. Carinhoso sem deixar de ser firme. Falar a verdade em amor. E argumentar com o próximo como gostaria que argumentassem comigo. Mesmo que isso me custe as duas faces doloridas e os pés feridos por andar uma milha a mais. Essa é minha meta.
Jesus saiu da Cruz cuspido, nu, ofendido, machucado, transpassado e humilhado por uma multidão de pessoas raivosas. Mas saiu plenamente vitorioso. Com raiva? Creio que não. Pois, senão, teria saído plenamente derrotado. E você, como tem se comportado? Como o Cordeiro diante de seus algozes ou como os algozes diante do Cordeiro?
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Cedido gentilmente pelo amigo Maurício Zágari, editor do blog 'Apenas'.
Nenhum comentário:
Postar um comentário